Recentemente saíram algumas noticias nos media que davam conta que o contacto com a natureza só traz benefícios à saúde de brancos e ricos.
Estas noticias são bastante relevantes para o trabalho de educadores, em particular educadores outdoor e ambientais, or isso fomos analisar a origem destas noticias e perceber do quer falavam afinal.
Será mesmo assim? Será click bait?
Um pouco dos dois…
Na verdade trata-se de uma questão de falta de representatividade nos estudos científicos (tal como em tantos outros sectores da sociedade).
Mas vamos por partes:
De que estamos a falar?
Um estudo de revisão, publicado recentemente na revista Current Research in Environmental Sustainability, analisou 174 estudos publicados na ultima década sobre a relação entre contacto com a natureza e bem-estar (físico e mental).
Observaram que 95% dos estudos sobre este tema foram conduzidos em países ricos, do ocidente ou da Ásia de Leste ou ocidentalizados.
Menos de 4% foram conduzidos em países com rendimentos médios e nenhum em países pobres.
Observaram também que a grande maioria dos participantes nos estudos eram brancos e que as comunidades negras, indígenas ou de pessoas de cor estavam fortemente sub-representadas.
Observaram ainda que a relação com a natureza descrita nos trabalhos era utilitarista e muito focada em florestas.
Os autores concluíram que:
Existe um problema de falta de diversidade na investigação sobre a relação entre bem-estar e contacto com a natureza.
Esta falta de diversidade é um entrave à credebilidade desta área, em particular na sua capacidade de fazer observações universais.
Quer dizer que estes estudos não são válidos?
Não. Estes estudos foram bem desenvolvidos e as suas conclusões são válidas.
No entanto as suas conclusões apenas são aplicáveis às populações que foram estudadas. São necessários mais estudos, noutras regiões do mundo e com maior diversidade de população.
Então a Natureza só faz bem a ricos e brancos?
Também não. Os estudos indicam que o contacto com a natureza é benéfico para todos. Mas a forma como o ser humano se relaciona com a natureza é diferente em todo o globo e essas diferenças têm que ser integradas na investigação.
Coisas como banhos de floresta, ou até passeios em parques são atividades típicas de países ricos e ocidentalizados. Noutras regiões a relação com a natureza é menos utilitarista, mais intangível e há especificidades culturais que devem ser tidas em conta.
FONTES & REFERÊNCIAS
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2666049022000263
https://www.eurekalert.org/news-releases/951344
https://www.popsci.com/environment/nature-mental-health-justice/