As Crianças Não Sabem Brincar?

As Crianças Não Sabem Brincar?

"As Crianças não sabem Brincar"

Quantas vezes já ouviste, ou disseste esta frase?

A ideia de que as crianças, atualmente, são menos capazes de se envolverem em brincadeiras autónomas e criativas do que as gerações anteriores é muito comum entre os adultos.

 No entanto será verdade?

 Vamos ver o que a investigação científica diz sobre o assunto.

O que a investigação sobre o tema sugere é que a natureza do brincar tem vindo a mudar ao longo das gerações em resposta às mudanças na sociedade, estilos de parentalidade e claro, desenvolvimentos tecnológicos.

No entanto, o brincar criativo e imaginativo continuam a ser uma parte essencial do desenvolvimento infantil.

 As crianças sabem e precisam de brincar e o brincar é uma parte tão importante do desenvolvimento infantil como em gerações anteriores.

Porque sentimos então que as crianças "já não sabem brincar"?

O que diz a Ciência?

As evidências apontam para que esta suposta falta de capacidade para brincar resulte de vários aspetos da vida atual, que influenciam as experiências das crianças, nomeadamente:

  • Excesso de atividades estruturadas: As crianças atualmente têm agendas muito cheias, repletas de compromissos e atividades extra-curriculares que limitam o seu tempo livre e disponibilidade para brincar livre e não estruturado.
  • Distrações digitais: Os aparelhos digitais, como telemóveis e tablets retêm a atenção das crianças e podem reduzir a motivação para o brincar livre e imaginativo.
  • Tempo reduzido no exterior: as mudanças nas formas de vida, mudanças para ambientes cada vez mais urbanos, preocupações de segurança, etc, limitam o tempo que as crianças passam no exterior, que são locais mais propícios à brincadeira livre.
  • Pressão académica: A pressão para terem um bom desempenho académico, juntamente com uma tendência para a alfabetização precoce levam a um excesso de atividades programas e uma falta de tempo para brincar.
  • Falta de oportunidades para brincar livre: horários escolares alargados, estilo de vida nas cidades, entre outros fatores limitam as oportunidades que as crianças têm em se envolver em brincar livre e não estrururado.
  • Preocupações de segurança: A vida nas cidades trouxe um aumento grande das preocupações de segurança dos mais (muitas vezes infundados)
  • Excesso de atividades conduzidas pelo adulto: A infância atualmente inclui uma série de atividades conduzidas pelo adulto, como desporto escolar, atividade extra-curriculares, etc, que levam a uma menor disponibilidade das crianças para brincar autónomo.
  • Sobre-estimulação: As crianças estão constantemente expostas a estímulos, como ecrãs, brinquedos, etc. Esta sobre-estimulação tem grandes impactos no seu desenvolvimento emocional levando a uma menor capacidade de atenção e a uma dependência de terceiros como fontes de entertenimento.
  • Desconexão à natureza: A desconexão entre infância e natureza limita a capacidades das criança se envolverem em brincadeiras imaginativas e sensoriais.

O que podemos fazer?

  • Prioriza o brincar livre não estruturado: Reconhecer a importância do brincar livre e prioriza-lo na rotina das crianças. Reserva tempo para permitir às crianças brincarem de forma livre, sem orientação de adultos ou objetivos, onde estas tenham liberdade para explorar, imaginar e criar.
  • Cria espaços amigos do brincar: Cria espaços propícios ao brincar livre, com acesso a materiais e recursos que incentivem a criatividade e a exploração. Brinquedos simples como blocos de construção, papéis, lápis de cor, restos de cartão, tecidos, etc.
  • Valoriza e incentiva a imaginação: Valoriza a imaginação natural das crianças e estimula-a. Incentiva as tuas crianças a criarem estórias, construirem cenários e brincarem ao faz de conta.
  • Limita o tempo de ecrã: Cria regras bem estabelecidas sobre o tempo que as tuas crianças podem passar no tablet ou telemóvel, limitando aos minutos recomendado para cada idade.
  • Promove e apoia a autonomia das crianças: Permite que sejam as criança a tomarem iniciativa no brincar, deixa que sejam elas a liderar, a escolher como e a que querem brincar. Fornece o suporte necessário mas permite que elas se sintam independentes e confiantes.
  • Promove a brincadeira ao ar livre: Proporciona às crianças oportunidade de brincarem ao ar livre e explorarem a natureza, seja no jardim de casa, jardins públicos ou parques urbanos.
  • Sê um modelo: Envolve-te nas brincadeiras das crianças, passa tempo com elas na natureza. Sê um modelo de criatividade, imaginação e diversão.
  • Advoga pelo brincar. Junta-te ao movimento, educa outros pais e educadores sobre a importância do brincar livre e não estruturado.

Fontes & Referências 

Artigo: Increased Screen Time: Implications for Early Childhood Development and Behavior

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27565361/

Artigo: Extracurricular Participation and Academic Outcomes: Testing the Over-Scheduling Hypothesis

https://link.springer.com/article/10.1007/s10964-011-9704-0

Relatório: The importance of play

https://www.waldorf-resources.org/fileadmin/files/pictures/Early_Childhood/dr_david_whitebread_-_the_importance_of_play.pdf

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