Fluidos não-newtonianos na educação infantil:  quando o brincar é também ciência

Fluidos não-newtonianos na educação infantil: quando o brincar é também ciência


🌿 A magia científica que nasce do brincar

Há experiências que parecem mágicas, mas que são, na verdade, janelas abertas para a física.

Misturar amido de milho e água pode parecer apenas uma brincadeira pegajosa — até que alguém mergulha a mão e percebe que, quanto mais força faz, mais sólido se torna.

Solta a pressão… e o material volta a escorrer como um líquido.

Este fenómeno, tão curioso aos olhos das crianças, é um fluido não-newtoniano — um material que desafia as regras do que pensamos ser um sólido ou um líquido.

 

🔬 Mas o que é isto de fluidos não newtonianos?

A maior parte dos líquidos, como a água ou o óleo, comporta-se de forma previsível: fluem mais facilmente quando agitamos ou mexemos com força.

Mas os fluidos não-newtonianos, como o oobleck, fazem o oposto — espessam com o movimento rápido e amolecem quando repousam.

Este comportamento chama-se espessamento ao corte (shear-thickening).

A nível microscópico, as partículas de amido de milho estão suspensas na água, sem se dissolver.

Quando mexemos devagar, deslizam livremente; mas ao aplicar força, colidem e formam uma rede temporária que resiste ao movimento.

É um pequeno milagre físico, visível e palpável — e uma oportunidade incrível para fazer ciência com as mãos.

 

🧠 Porque é que isto importa na educação

No pré-escolar, o oobleck é uma experiência sensorial irresistível e um excelente ponto de partida para trabalhar o pensamento científico precoce.

Permite às crianças explorar com o corpo, descrever sensações (“duro”, “mole”, “escorre”), e começar a usar linguagem científica de forma natural.

É uma forma simples e segura de introduzir o método científico: observar, prever, testar e refletir. As crianças começam a perceber que a ciência é feita de observação e perguntas.

No 1.º ciclo, a mesma mistura pode transformar-se numa investigação experimental:

  • O que acontece se alterarmos a proporção de amido e água?
  • E se mexermos rápido ou devagar?
  • É líquido, sólido… ou algo intermédio?

As crianças levantam hipóteses, registam resultados e comunicam conclusões.

O oobleck torna-se assim uma ferramenta prática de aprendizagem ativa, alinhada com as aprendizagens essenciais e com metodologias que promovem a autonomia e o raciocínio científico.

 

🎨 O que as crianças aprendem com o oobleck

Trabalhar com fluidos não-newtonianos contribui para desenvolver:

  • Curiosidade científica e capacidade de observação;
  • Linguagem científica e comunicação de descobertas;
  • Compreensão das propriedades dos materiais;
  • Planeamento e registo de experiências;
  • Pensamento crítico e criativo — perceber que a ciência nasce das perguntas.

É uma forma de mostrar que brincar é aprender com as mãos, e que as experiências simples podem gerar aprendizagens profundas.

 

🌍 Conclusão: brincar é fazer ciência

Os fluidos não-newtonianos são uma ponte entre o brincar e o pensar científico.

Mostram às crianças que o mundo nem sempre segue regras simples — e que é nas exceções, nas perguntas e nas surpresas que nasce o verdadeiro conhecimento.

Na educação científica, o oobleck é mais do que uma experiência divertida:

é uma oportunidade para formar curiosos, observadores atentos e pensadores livres — tudo aquilo que a ciência precisa para continuar viva.

 

🌾 Uma variação sensorial: o slime com sementes de chia

Além do clássico oobleck feito de amido de milho e água, podemos explorar variações que ampliam a experiência sensorial.

Uma das mais interessantes é a mistura com sementes de chia hidratadas, que introduz uma textura diferente e um novo fenómeno físico-químico.

Quando entram em contacto com a água, as sementes de chia libertam uma camada de mucilagem — um polissacarídeo que forma uma rede coloidal capaz de reter grandes quantidades de água.

O resultado é um gel elástico e húmido, onde a estrutura microscópica se comporta de forma semelhante aos fluidos não-newtonianos: reage à pressão, escorre lentamente e estimula a curiosidade tátil.

Esta variação é especialmente interessante para atividades de exploração sensorial com crianças mais pequenas, pois combina texturas, temperatura e observação visual de transformações físicas — tudo com ingredientes naturais e seguros.

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