Nem só de negacionistas se faz a negação da ciência.
Nós os humanos gostamos de dividir o mundo em dois: nós e os outros, os bons e os maus. Os que gostam de cebola, os que não gostam; os que dormem cedo, os que dormem tarde; os que negam ciência e os que acreditam nela. Mas a vida não é a preto e branco e nem sempre as coisas são assim tão simples.
Todos nós, em algum momento das nossas vidas, negamos informação confirmada por dados: ou porque contraria as nossas crenças, ou porque seguimos um conselho de um amigo ou de uma figura publica que admiramos, ou porque nos envolvemos emocionalmente com um tema ao ponto de não conseguirmos ser imparciais.
A negação da ciência é um tópico quente de debate neste momento, temas com as alterações climáticas e as vacinas têm extremado posições e feito crescer os movimentos negacionistas um pouco por todo o mundo e Portugal não é excepção. Aprender a reconhecer os nossos próprios viéses e limitações contribui para parar o ciclo da desinformação e aumenta a confiança na ciência.
Estes são alguns dos viéses e limitações que nos levam a negar ciência.
Identidade Social
Somos seres sociais e confiamos nas pessoas que partilham os mesmos valores que nós. Se virmos informação falsa e negacionista partilhada por essas pessoas é mais provável acreditemos nela e que a partilhemos.
Atalhos Mentais
Estamos cansados, ocupados, com pressa. Passamos pelos jornais ou pelas redes sociais a correr, sem tempo ou paciência para ler com calma e analisar o que lemos.
Se encontrarmos informação com a qual nos identificamos iremos partilhar e repetir, sem verificar a fonte ou confirmar a sua veracidade.
Crenças
Todos temos crenças e regemos a nossa vida por uma escala de valores.
Se encontrarmos informação que contrarie essas crenças a nossa tendência será para negar a informação, por forma a manter a nossa crença.
Efeito Dunning-Krugger
É um viés cognitivo, que nos leva a achar que sabemos mais de um assunto do que na realidade sabermos.
Todos nós temos ideia daquilo que sabemos acerca de um tema o problema é que, devido a este efeito, provavelmente sabemos menos do que julgamos.
Viés de Confirmação
É a tendência para nos lembrarmos, pesquisarmos ou interpretarmos informação de forma a confirmar as nossas crenças.
Por exemplo, apesar de os dados estatísticos mostrarem que nas noites de lua cheia não nascem mais bebés, muitas parteiras continuam a garantir que há maior afluência às maternidades nessas noites.
Raciocínio Motivado
Duas pessoas com visões políticas opostas vão interpretar os mesmos dados de formas opostas.
Isto porque nem a analisar dados somos imparciais somos sempre influenciados pelas nossa crenças e visões. A tendência é para aplicarmos também esta parcialidade em debates e discussões o que leva a um enviesamento da informação.
Emoções
As emoções influenciam o nosso comportamento, já o sabemos. Mas mais do que isso afetam a nossa visão do mundo, as nossas preferências políticas ou a forma como reagimos à informação que nos é apresentada.
Fontes & Referências
Artigo: Science denial: Why it happens and 5 things you can do about it
Livro: How to Talk to a Science Denier: Conversations with Flat Earthers, Climate Deniers, and Others Who Defy Reason, Lee McIntyre